Fonte da imagem: https://www.flickr.com/photos/53354785@N05/5026010921/.

Figurinhas de plástico

Marcelo Ferlin
4 min readJun 17, 2023

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Repassava na memória os brinquedos de plástico moldado da minha infância, depois de ter visto um vídeo de uma convenção de GI Joe, a JoeFest 2023, e reparei que só duas linhas de brinquedos são reconhecíveis e só uma tem nome.

Chamo de plástico moldado para diferenciar dos hominhos (action figures) com articulação, tipo os próprios GI Joes e a versão nacional da Estrela, os Comandos em Ação. Na prática é tudo hominho, mas eu listava só as figurinhas de plástico.

A figurinha de plástico mais antiga da minha memória era um tourinho cinzento, talvez de alguma fazendinha da Gulliver. Esse touro foi meu companheiro, avatar e alter-ego por muito tempo.

E nesse meio tempo apareceram também as figuras do zoológico da Gulliver, com aquelas jaulas e cercados de montar, com dobradiças e portinhas, e algumas figuras do Forte Apache também da Gulliver. São essas as figuras reconhecíveis, embora o zoológico não tenha nome como o Forte Apache tinha.

Em segundo lugar entram figuras de um kit de fazendinha, com vaquinhas, ovelhas e casinhas, matinhos e árvores, em plástico sólido e bem menores que as figuras da Gulliver. Por um tempo, foram o substituto do meu boizinho, que foi carcomido pelas aventuras e depois se perdeu.

Havia outras figuras, bem maiores, como uma vaca de borracha, uma girafa de material mais duro e alguns cachorros Xereta, que você arrastava com uma cordinha. Nenhum deles era avatar, apenas objetos de representação, com personalidades atribuídas, aventuras, ambições de ocasião. Não cabiam no bolso do pequeno deus, demiurgo de universos instantâneos, formados no quintal de terra, na grama da frente de casa, na mesa dos fundos, no tapete da sala ou onde pudesse equilibrar essas figurinhas.

O terceiro elemento são um conjunto de figurinhas de plástico de guerreiros medievais, com armas e armaduras diferentes. Tinham a metade do tamanho dos super-heróis da Gulliver, e vinham com uma base moldada semelhante a esses super-heróis e às figuras do Forte Apache, todos em dinâmicas poses estáticas.

Minha mãe teve uma loja de artigos de festa quando eu era criança e na minha cabeça essas figuras vinham da loja. Ela me entregou os guerreiros medievais em dois saquinhos de pipoca, o saquinho grande quando na época só haviam dois tamanhos, o normal e o mais bojudo e mais curto na altura. Eram peças monocromáticas em vários tons, variando entre tons de rosa, tons de vemelho e tons de azul. Usavam elmos e vários tipos de armaduras e espadas, machados e martelos.

Nunca consegui reencontrar nem imagens desses brinquedos. Quem nasceu anos depois encontrou versões mais grossas, pintadas e bem mais caras.

Em quarto lugar está o cavaleiro do Forte Apache que tem as pernas arqueadas para montar um cavalo e empunha um sabre. Esse foi meu avatar e dublê, fora da cavalaria, de figuras como Zorro, Scaramouche e qualquer herói da TV ou dos gibis que empunhasse uma espada.

Só tive alguns dos kits (sacolinhas) de índios e cavaleiros, nunca tive o forte e nunca tive as figuras pintadas. Talvez tenha tido alguns dos mineradores que vinham misturados com a calaria, e no tempo eram marrons ou cinzentos. Meus índios eram monocromáticos de um vermelho de molho de tomate ou doce de abóbora e meus soldados da cavalaria eram azuis, numa cor desbotada de caneta Bic.

De figuras com alguma articulação, adorava o robô Roby, da Trol. Era um brinquedo de corda, tipo os Patotinhas da Estrela, aqueles bonequinhos da Disney de dar corda. Lembro do exército de mini-esletrodomésticos de dar corda, e até de uma máquina de costura à corda. E o Roby vinha numa bolha de plástico. Os braços eram articulados no ombro e nos punhos, e no lugar da cabeça tinham um domo translúcido que deixava a gente enxergar peças ou engrenagens que lembravam prédios de uma cidade toda prateada.

Falando em articulação, adorava outro conjunto de brinquedos que minha mãe trouxe de São Paulo, quatro caubóis com indumentárias removíveis (chapéu, casaco, armas), como aquelas bonequinhas de plástico com peças de roupas, também de plástico, para vestir. Mas eram peças finas. Os braços e as pernas giravam. Eram maiores que aqueles caubóis de plástico desmontáveis, com tronco, pernas e chapéu, e tinham detalhes próximos das peças do Forte Apache.

Mas figuras articuladas merecem outra memória.

A foto que ilustra este post traz a linha da Gulliver de heróis com veículos. Também não configuram figuras articuladas. O plástico era mais maleável que o dos heróis num pedestal, pareciam feitos de borracha, e com o tempo os braços descolavam do tronco. As motos tinham fricção, o batmóvel (lançado nos anos 1970?) não.

Vi o vídeo da JoeFest e pensei mais uma vez em como esses brinquedos eram, sob várias comparações, mais baratos que os de hoje. E em como os brinquedos baratos de hoje estão fora das lojas grandes e das lojas de brinquedo de rede.

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